Vicente de Carvalho


Última Confidência -

- E se acaso voltar? Que hei de dizer-lhe quando
Me perguntar por ti?
- Dize-lhe que me viste uma tarde chorando...
Nessa tarde parti.

- Se arrependido e ansioso ele indagar: Para onde?
Por onde a buscarei?
- Dize-lhe: 'Para além... Para longe...' Responde
Como eu mesma: 'Não sei'.

Ai, é tão vasta a noite! A meia luz do ocaso
Desmaia... anoiteceu...
Onde vou? Nem eu sei... Irei seguindo o acaso
Até achar o céu...

Eu cheguei a supor que possível me fosse
Ser amada - e viver.
É tão fácil a morte... Ai, seria tão doce
Ser amada... e morrer!...

Ouve: conta-lhe tu que eu chorava, partindo,
As lágrimas que vês...
Só conheci do amor, que imaginei tão lindo,
O mal que ele me fez.

Narra-lhe transe a transe a dor que me consome...
Nem houve nunca igual!
Conta-lhe que eu morri murmurando o seu nome
No soluço final!

Dize-lhe que o seu nome ensangüentava a boca
Que o seu beijo não quis:
Golfa-me em sangue vês? E eu murmurando-o, louca!
Sinto-me tão feliz!

Nada lhe contes, não... Poupa-o... Eu quase o odeio,
Oculta-lho! Senhor,
Eu morro!... Amava-o tanto... Amei-o sempre... Amei-o
Até morrer... de amor.
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