Ó lua bendita
Que vens clarear
A sombra infinita
Da noite no mar!
Como princesa encantada
Que um leve sonho conduz,
Surges do mar, coroada
De um ninho de ouro e de luz.
Surges; e à tua presença,
O céu, criado por ela,
De dentro da noite imensa
Surge, e se azula, e se estrela.
Ó lua bendita
Que vens clarear
A sombra infinita
Da noitr no mar!
Surgida do mar infindo,
O infindo céu te seduz
- Campo em flor que vês fulgindo
Em flores de ouro e de luz;
Teu passo, lento, caminha...
Onde vais? É longe? É perto?
Sobes, absorta e sòzinha,
Pelo azul, vasto e deserto.
Ó lua bendita
Que vens clarear
A sombra infinita
Da noite no mar!
Lua, lua, não te apresses:
Mais sobes, mais se reduz
No alvor em que empalideces
Teu nimbo de ouro e de luz...
Onde o teu caminho te arrasta?
A que destino? A que têrmo?
Segues... A noite é tão vasta
Pelo azul do céu tão êrmo...
Ó lua bendita
Que vens clarear
A sombra infinita
Da noit no mar!
Tão alto que tu subiste!
Tão longe!... Do céu a flux,
Vagueias, pálida e triste,
Entre as flores de ouro e luz...
Como entristece da tua
Ausência, ou das tuas mágoas
O mar que deixaste, ó lua,
Lua surgida das águas!
Ó lua bendita
Que vens clarear
A sombra infinita
Da noite no mar!
Como uma lágrima prestes
A rolar, pairas suspensa
Lá dos páramos celestes,
Lá do azul da noite imensa:
De todo o céu luminoso
Sôbre todo o escuro mar
Desce o alvor silencioso
Do luar...
E o mar, sob a triste alvura
Desse lívido sudário,
Êrmo e vago, se afigura
Mais vago, mais solitário...
Ó linda princesa
Que vens aumentar
A imensa tristeza
Da noite no mar!