Ora se bem me lembro bem bastava
ter que me dar a gregos e troianos.
Mas dar-me a americanos, russos
e chineses, arre! isso não, que bem me bastam
os portugueses! Esses facínoras de pé na mão, esses
minhocas endomingados na semana
e tesos ao domingo.
Gregos de Ulisses, vale é uma chama
acesa no altar da pátria.
Troianos . . . há Eneias, piedoso,
acartando nas costas o seu povo.
De Portugal, não se fala, nem do Gama.
Mas dar-me a americanos, russos
e chineses, arre! isso não, que bem me bastam
os portugueses!
Quero ver-me é entre tahitianas,
Titiro manhoso, vendedor de flautas
e com elas convívio amenizado.
Quero é dar-me a Circe, enfeitiçar-me
em cavernas simbólicas
onde não faltem os sobresselentes,
o simulacro, o ver de cão travado
pelo cheiro a carne quente.
Penélope esperou-me tanto tempo
que pode esperar mais, como Lisboa.
Mas dar-me a americanos, russos
e chineses, arre! isso não, que bem me bastam
os portugueses!
Acertadas as contas, quero ver
se não me engano.
Contra Ulisses, eu quero ser troiano.
Quero ter
viagem paga, um fim que dignifique,
uma toga, um palácio . . . tudo o que
justifique
minha precária existência
marcada pela traição, pelo pavor
piloto morto, pelo sonhador, pelo incêndio, pela lágrima
de aligator . . .
Verdade, que há um cheiro lusitano . . .
Sou romano.
Aquilo que prometo nunca faço.
Mas dar-me a americanos, russos
e chineses, arre! isso não, que bem
me bastam os portugueses!