Luís de Camões

1524 - 1580 / Lisbon, Portugal

CRUEL SENHORA

Sempre, cruel Senhora, receei,
medindo vossa grã desconfiança,
que desse em desamor vossa tardança,
e que me perdesse eu, pois vos amei.
Perca-se, enfim, já tudo o que esperei,
pois noutro amor já tendes esperança.
Tão patente será vossa mudança,
quanto eu encobri sempre o que vos dei.
Dei-vos a alma, a vida e o sentido;
de tudo o que em mim há vos fiz senhora.
Prometeis e negais o mesmo Amor.
Agora tal estou que, de perdido,
não sei por onde vou, mas algũ'hora
vos dará tal lembrança grande dor.
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