Laurindo Rabelo


Soneto II

De uma ingrata em troféu despedaçado

Meu coração devora amor cruento,

Trocando em fero e bárbaro tormento

Quantos prazeres concedeu-me o fado.

No seio d'alma, já dilacerado,

Negras fúrias do báratro apascento!

Filtra-me o delirante pensamento

De zelos negro fel envenenado.

Desprezo, ingratidão, fria esquivança

Da cruel por quem morro, em tal procela

Apagaram-me a estrela da esperança.

E eu (ao confessá-lo a dor me gela)

Humilhado a seus pés, minha vingança

Ê carpir, delirar, morrer por ela.
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