Porém, longe da pátria é dupla a morte
Desgraçado do mísero que expira
Longe dos seus, que molha a língua, seca
Pelo fogo da febre, em caldo estranho;
Que vigílias de amor não tem consigo,
Nem palavras amigas que lhe adocem
O tédio dos remédios, nem um seio,
Um seio palpitante de cuidados,
Onde descanse a lânguida cabeça!
Feliz, feliz aquele a quem não cercam,
Nesse momento acerbo, indiferentes
Olhos sem pranto; que na mão gelada
Sente a macia destra da amizade
Num aperto de dor prender-lhe a vida!
Feliz o que, no arfar da ânsia extrema
De desvelada irmã piedoso lenço,
Úmido de saudades, vem limpar-lhe
As frias bagas dos finais suores!
Feliz o que repete a extrema prece,
Ensinada por ela e beijar pôde
O lenho do Senhor nas mãos maternas!
Engraçado de mim!… Talvez bem cedo,
Longe de mãe, de irmãos, longe da pátria
Tenha de me finar… Ramo perdido
Do tronco que o gerou, e arremessado
Por mão de gênio mau é plaga alheia,
Mirrarei esquecido! Os céus o querem;
Os céus são imutáveis; aos decretos
Do Senhor curvarei a fronte humilde,
Como cristão que sou. Eternidade,
Recebe-me a teu bordo!… Adeus, ó mundo!
Já sinto da geada dos sepulcros
O pavoroso frio enregelar-me…
A campa vejo aberta e lá do fundo
Um esqueleto em pé vejo a acenar-me…
Entremos. Deve haver nestes lugares
Mudança grave na mundana sorte;
Quem sempre a morte achou no lar da vida,
Deve a vida encontrar no lar da morte,