Laurindo Rabelo


A Morte é Dura

Porém, longe da pátria é dupla a morte

Desgraçado do mísero que expira

Longe dos seus, que molha a língua, seca

Pelo fogo da febre, em caldo estranho;

Que vigílias de amor não tem consigo,

Nem palavras amigas que lhe adocem

O tédio dos remédios, nem um seio,

Um seio palpitante de cuidados,

Onde descanse a lânguida cabeça!

Feliz, feliz aquele a quem não cercam,

Nesse momento acerbo, indiferentes

Olhos sem pranto; que na mão gelada

Sente a macia destra da amizade

Num aperto de dor prender-lhe a vida!

Feliz o que, no arfar da ânsia extrema

De desvelada irmã piedoso lenço,

Úmido de saudades, vem limpar-lhe

As frias bagas dos finais suores!

Feliz o que repete a extrema prece,

Ensinada por ela e beijar pôde

O lenho do Senhor nas mãos maternas!

Engraçado de mim!… Talvez bem cedo,

Longe de mãe, de irmãos, longe da pátria

Tenha de me finar… Ramo perdido

Do tronco que o gerou, e arremessado

Por mão de gênio mau é plaga alheia,

Mirrarei esquecido! Os céus o querem;

Os céus são imutáveis; aos decretos

Do Senhor curvarei a fronte humilde,

Como cristão que sou. Eternidade,

Recebe-me a teu bordo!… Adeus, ó mundo!

Já sinto da geada dos sepulcros

O pavoroso frio enregelar-me…

A campa vejo aberta e lá do fundo

Um esqueleto em pé vejo a acenar-me…

Entremos. Deve haver nestes lugares

Mudança grave na mundana sorte;

Quem sempre a morte achou no lar da vida,

Deve a vida encontrar no lar da morte,
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