Gregorio de Matos Guerra

23 December 1636 - 26 November 1696 / Bahia

Soneto IV - Por entre o Beberibe, e o Oceano

Por entre o Beberibe, e o Oceano

Em uma areia sáfia, e lagadiça

Jaz o Recife povoação mestiça,

Que o Belga edificou ímpio tirano.

O Povo é pouco, e muito pouco urbano,

Que vive à mercê de uma lingüiça,

Unha de velha insípida enfermiça,

E camarões de charco em todo o ano.

As damas cortesãs, e por rasgadas

Olhas podridas, são, e pestilências,

Elas com purgações, nunca purgadas.

Mas a culpa têm vossas reverências,

Pois as trazem rompidas, e escaladas

Com cordões, com bentinhos, e indulgências.

O Povo é pouco, e muito pouco urbano,

Que vive à mercê de uma lingüiça,

Unha de velha insípida enfermiça,

E camarões de charco em todo o ano.
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