Emílio de Meneses


Trapo

Esta que outrora o linho da cambraia
Na pompa da ostentosa lençaria,
— Folhos e rendas que à secreta alfaia
Ornavam com capricho e bizarria —

Era camisa — e que hoje a nostalgia
Sofre do tempo em que entre a pele e a saia
O perfumado corpo lhe cingia, —
Era ao possuí-la, a última atalaia.

Trapo que encerras o ebriante aroma
Do seu colo moreno, poma a poma,
Ora em tiras te vejo desprezado.

E mais te quero, e mais te achego ao peito
Trapo divino! símbolo perfeito
De um coração por Ela espedaçado.
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