Eu sou o Jeca Tatu.
Vancê só sabe de lezes
Que se faz com as duas mão.
Mas porém num sabe as lezes
Da natureza, e que Deus
Fez pra nóis com o coração.
Vassuncê é um Senadô,
É um conseiêro, é um dotô,
É mais que um imperadô,
É o mais grande cirdadão
Mas porém eu lhe garanto
Que nada disso seria
Naquelas mata bravia
Das terra do meu sertão.
A miséra, sêo doto
Também a gente consola.
O orguio é que mata a gente.
Vancê qué ser Presidente ...
E eu sou quero ser rocêro
E tocadô de viola
Vancê tem todo o direito
De ganhá cém mir pru dia
Pra mió podê fala.
Mas porém o que num póde
É a inguinorância insurtá.
A gente, sêo conseiêro
Tá cansada de esperá.
Vancê diz que a gente véve
Com a mão no queixo, assentado
Sem fazê causo das coisa
Que vancê diz no senado.
E vassuncê tem razão.
Se nóis tudo é anarfabéto,
Cumé que a gente vai lê
Toda aquela falação ?
Preguiçoso ? madracêro ?
Não sinhô, sêo conseiêro.
É pruquê vancê num sabe
O que seje um boiadêro
Criá cum tanto cuidado
Cum tanto amô e alegria
Umas cabeça de gado
E despois , a impedemia
Carregá tudo com os diabo
Em meno de quatro dia.
É pruquê vancê num sabe
O trabaio desgraçado
Qui um homi tem , sêo doto
Pra incoivará um roçado,
E quando o ouro do mio
Vai ficando embonecado
Pra gente entônce coiê...
O mio morre de sede
Pulo sor esturricado
Sequinho cumo vancê.
É pruquê vancê num sabe
Quanto é duro um pai sofrê
Vendo seu fio crescendo
Dizendo sempre...papai,
Vem me ensina o A B C.
Pru móde a politicáia
Vancê qué que um homi sáia
Do sertão pra vim votá
Em Juaquim, Pedro ou Francisco
Quando vem a ser tudo iguá.
Vancê tem um casarão
Tem um jardim, uma chaca
Tem criado de casaca
E ganha tudos os dia
Quer chova quer faça sor,
Só pra falá...cem mir réis..
Eu trabáio o ano inteiro
Somente quando Deus qué
Eu vivo do meu roçado
Me esfarfano cumo um burro
Pra sustentá oito fio,
Minha mãe minha muié.
Eu drumo im riba de um couro
Numa casa de sapé.
Vancê tem seu otromóve,
Eu pra vim no povoado
Ando dez légua de pé.
O sór teve tão ardente
Lá pras banda do sertão
Que em mêno de quinze dia
Perdi toda a criação.
Na semana retrasada
O vento tanto ventô,
Que a páia que cobre a chóça
Foi pulos mato...avuô.
Minha muié ta morrendo
Só por farta de mézinha...
E pru farta de um dotô.
Minha fia que é bonita
Bunita cumo uma frô..
Sêo dotô.. num sabe lê..
E o Juquinha que ainda tá
Cherando memo a cuêro
E já ponteia a viola,
Se entrasse lá pruma escola
Sabia mais que vancê.
Preguiçoso ? Madracêro ?
Não sinhô sêo conseiêro..
Vancê diga aos cumpanhêro
Que um cabra, o Zé das caboca
Anda cantando estes versos
Que hoje lá no sertão
Avôa de boca im boca.
(canta) Eu prantei a minha roça
o tatu tudo comeu
prante roça quem quizé
que o tatu hoje sou eu..
Vassuncê sabe onde tá
O buraco adônde véve
O tatú esfomeado ?
Tá nos palaço da corte,
Dessa porção de ricaço
Que fez aquele palaço
Cum o sangue dos desgraçado.
Vancêis tem rio de açude
Tem os dotô da hingena
Que é pra cuidá da saúde...
E nóis, o que é que tem ?
Arresponda ?
No tempo das inleição
Que é o tempo das bandaiêra
Nóis só tem uma cangáia
Pra levá toda a porquêra
Dos dotô puliticáia.
Vancê qué ser presidente ?
Apois seja, meu patrão.
A nossa terra, o Brasí
Já tem muita intiligência,
Muito homi de sabença
Que só dá pra espertaião.
Leva o diabo a falação.
Pra sarvá o mundo inteiro
Abasta ter coração.
Prôs homi de intiligência
Trago cumigo esta figa
--Esses homi tem cabeça,
mas porém o que é mais grande
do que a cabeça ..é a barriga.
Sêo conseiêro...um consêio.
Dêxe toda a birbotéca
Dos livro...e se um dia vancê quizé
Passá uns dia de fome
De fome e tarveis de sede,
E drumí lá numa rêde
Numa casa de sapé,
Vá passá comigo uns tempo
Nos mato do meu sertão,
Que eu hei de lhe abrir as porta
Da choça e do coração.
Eu vorto pros matagá,
Mas porém oiça premero:
Vancê pode