Catulo da Paixã Cearense

8 October 1863 - 10 May 1917 / São Luís do Maranhão

Luar do Sertão

Oh! Que saudades do luar da minha terra
Lá na serra branquejando folha secas pelo chão
Esse luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar do meu sertão
Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata prateando a solidão
A gente pega na viola que ponteia
E a canção é a lua cheia a nos nascer do coração
Quando vermelha, no sertão desponta a lua
Dentro d'alma , onde flutua ,também rubra, nasce a dor
E a lua sobe e o sangue muda em claridade
e a nossa dor muda em saudade, branca, assim, da mesma cor.
Ah! Quem me dera, que eu morresse lá na serra
Abraçado a minha terra e dormindo de uma vez
Ser enterrado numa grota pequenina
Onde a tarde a sururina chora a sua viuvez
Diz uma trova que o sertão todo conhece
Que se a noite o céu floresce, nos encanta e nos seduz
É porque rouba dos sertões as flores belas
Com que faz essas estrelas , lá do seu jardim de luz.
Mas como é lindo ver depois por entre o mato
Deslizar, calmo o regato transparente como um véu
No leito azul de suas águas, murmurando
Ir, por sua vez roubando, as estrelas lá do céu.
A gente fria desta terra sem poesia
Não se importa com essa lua , nem faz caso do luar
Enquanto a onça lá na verde capoeira
leva uma hora inteira, vendo a lua a meditar.
Coisa mais bela neste mundo não existe
que ouvir um galo triste no sertão se faz luar
Parece até que a alma da lua é que descansa
escondida na garganta desse galo a soluçar.
Se Deus me ouvisse com amor e caridade
Me faria essa vontade o ideal do coração
Era que a morte a descontar me surpreendesse
e eu morresse numa noite de luar do meu sertão
E quando a lua surge em noites estreladas
nessas noites enluaradas, em divina aparição
Deus faz cantar o coração da natureza
Para ver toda a beleza do luar do Maranhão
Deus lá do céu, ouvindo um dia, essa harmonia
A do meu sertão,do meu sertão primaveril
Disse aos arcanjos que era o hino da poesia
e também a Ave Maria, da grandeza do Brasil
Pois só nas noites do sertão de lua plena
Quando a lua é uma açucena, é uma flor primaveril
É que o poeta, descantado a noite inteira
Vê na lua brasileira toda a alma do Brasil
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