Casimiro de Abreu

4 January 1839 – 18 October 1860 / Barra de São João

O Baile!

Se junto de mim te vejo
Abre-te a boca um bocejo,
Só pelo baile suspiras!
Deixas amor - pelas galas,
E vais ouvir pelas salas
Essas douradas mentiras!

Tens razão! Mais valem risos
Fingidos, desses Narcisos
- Bonecos que a moda enfeita -
Do que a voz sincera e rude
De quem, prezando a virtude,
Os atavios rejeita.

Tens razão! - Valsa, donzela,
A mocidade é tão bela,
E a vida dura tão pouco!
No burburinho das salas,
Cercada de amor e galas,
Sê tu feliz - eu sou louco!

E quando eu seja dormido
Sem luz, sem voz, sem gemido,
No sono que a dor conforta;
Ao concertar tuas tranças
No meio das contradanças
Diz tu sorrindo: '- Qu'importa?..

'Era um louco, em noites belas
'Vinha fitar as estrelas
'Nas praias, co'a fronte nua!
'Chorava canções sentidas
'E ficava horas perdidas
'Sozinho, mirando a lua!

'Tremia quando falava
'E - pobre tonto - chamava
'O baile - alegrias falsas!
'- Eu gosto mais dessas falas
'Que me murmuram nas salas
'No ritornelo das valsas. - '

Tens razão! - Valsa, donzela,
A mocidade é tão bela
E a vida dura tão pouco!
P'ra que fez Deus as mulheres,
P'ra que há na vida prazeres?
Tu tens razão... eu sou louco!

Sim, valsa, é doce a alegria,
Mas ai! que eu não veja um dia
No meio de tantas galas -
Dos prazeres na vertigem,
A tua coroa de virgem
Rolando no pó das salas!...
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