— 'Sabes que voz é esta?'
Ela cismava!...
— 'Sabes, Maria?
— 'É uma canção de amores.
Que além gemeu!'
— 'É o abismo, criança!...'
A moça rindo
Enlaçou-lhe o pescoço:
— 'Oh! não! não mintas!
Bem sei que é o céu!'
— 'Doida! Doida! É a voragem que nos chama!...'
— 'Eu ouço a Liberdade!'
— 'É a morte, infante!'
— 'Erraste. É a salvação!'
— 'Negro fantasma é quem me embala o esquife!'
— 'Loucura! É tua Mãe... O esquife é um berço,
Que bóia n'amplidão!...'
— 'Não vês os panos d'água como alvejam
Nos penedos? Que gélido sudário
O rio nos talhou!'
— 'Veste-me o cetim branco do noivado...
Roupas alvas de prata... albentes dobras...
Veste-me!... Eu aqui estou.'
— Já na proa espadana, salta a espuma...
— São as flores gentis da laranjeira
Que o pego vem nos dar...
Oh! névoa! Eu amo teu sendal de gaze!...
Abram-se as ondas como virgens louras,
Para a Esposa passar!...
'As estrelas palpitam! — São as tochas!
Os rochedos murmuram!... São os monges!
Reza um órgão nos céus!
Que incenso! — Os rolos que do abismo voam!
Que turíbulo enorme — Paulo Afonso!
Que sacerdote! — Deus...'
À beira do abismo e do infinito
A celeste Africana, a Virgem-Noite
Cobria as faces... Gota a gota os astros
Caíam-lhe das mãos no peito seu...
... Um beijo infindo suspirou nos ares...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A canoa rolava!... Abriu-se a um tempo
O precipício!... e o céu!...