Álvares de Azevedo

the Brazilian Lord Byron] (12 September 1831 - 25 April 1852 / São Paulo

Tarde de Verão

Como cheirosa e doce a tarde expira!
De amor e luz inunda a praia bela...
E o sol já roxo e trêmulo desdobra
Um íris furta-cor na fronte dela.

Deixai que eu morra só! enquanto o fogo
Da última febre dentro em mim vacila,
Não venham ilusões chamar-me à vida,
De saudades banhar a hora tranqüila!

Meu Deus! que eu morra em paz! não me coroem
De flores infecundas a agonia!
Oh! não doire o sonhar do moribundo
Lisonjeiro pincel da fantasia!

Exaurido de dor e d'esperança
Posso aqui respirar mais livremente,
Sentir ao vento dilatar-se a vida,
Como a flor da lagoa transparente!

Se ela estivesse aqui! no vale agora
Cai doce a brisa morna desmaiando:
Nos murmúrios do mar fora tão doce
Da tarde no palor viver amando!

Uni-la ao peito meu — nos lábios dela
Respirar uma vez, cobrando alento;
A divina visão de seus amores
Acordar o meu peito inda um momento!

Fulgura a minha amante entre meus sonhos,
Como a estrela do mar nas águas brilha,
Bebe à noite o favônio em seus cabelos
Aroma mais suave que a baunilha.

Se ela estivesse aqui! jamais tão doce
O crepúsculo o céu embelecera...
E a tarde de verão fora mais bela,
Brilhando sobre a sua primavera!

Da lânguida pupila de seus olhos
Num olhar de desdém entorna amores,
Como à brisa vernal na relva mole
O pessegueiro em flor derrama flores.

Árvore florescente desta vida,
Que amor, beleza e mocidade encantam,
Derrama no meu seio as tuas flores
Onde as aves do céu à noite cantam!

Vem! a areia do mar cobri de flores,
Perfumei de jasmins teu doce leito;
Podes suave, ó noiva do poeta,
Suspirosa dormir sobre meu peito!

Não tardes, minha vida! no crepúsculo
Ave da noite me acompanha a lira...
É um canto de amor... Meu Deus! que sonhos!
Era ainda ilusão — era mentira!
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