Satã, onde a puseste?
Busco-a desde a manhã
Oh pálida Celeste…
Satã! Satã! Satã!
E o Cavaleiro andante
A toda, a toda a rédea,
Passa em busca da Amante
Pela noite sem luar da Idade Média.
— O vento ulula e chora…
Maldição! Maldição!
A quem amar agora,
Meu pobre coração…
E o Cavaleiro passa
Ante a sombria porta
Da lúgubre Desgraça,
Silenciosa mulher de olhar de morta.
—Viste, velha agoureira,
O Anjo do meu solar?
— Ah! com uma Feiticeira
Ela acaba de passar…
E bate o Cavaleiro
A outra porta escura:
É a casa do coveiro,
Solitária sepultura.
— Quem sabe! acaso, acaso,
O meu anjo morreu?
— Fidalgo, morre o ocaso,
Não posso enterrá-lo eu!
Louco, às trevas pergunta:
Sombras pelos caminhos
Dizem que ela é defunta…
E ele começa a interrogar os ninhos.
— Acaso, acaso a viste,
Meu suave ruscinol?
— Ouves a endecha triste?
Bem vês que não vi o sol.
E o Cavaleiro escuta
Longe o estertor de um pio…
Talvez a voz poluta
E irônica de algum mocho erradio.
— O teu Anjo finou-se
Ao beijo de Satã…
Ai! do seu lábio doce,
Mais doce que o manhã!
Tinem arneses: voa
O cavaleiro andante
A toda rédea, à-toa…
Não acharás, Fidalgo, a tua amanete!
II
— Satã, onde a puseste?
Que incubo a fanou já?
— A pálida Celeste…
Ei-la no meu Sabá.